Nos dias quase todas as coisas são comuns, quase tudo
que passa entre nossos olhos tem cara de café amanhecido na pressa e almoço
requentado na correria, raras vezes jantamos com propriedade, e não digo da
alimentação boa, digo do apreciar comida, companhia e conversa, assim como
raramente amanhecemos com mesa de café da manhã, café quente e pessoas em volta
de uma mesa pra repartir o pão, filosofar a vida.
A gente esquece na correria que alguém nos espera pra
jantar, a gente abstrai que amanhã é sábado e é dia de café fresco e amigos em
volta da mesa, esquece o que passa nessa coisa de dividir a vida. A gente é
feito de premissas e detalhes, e por mais que estes sejam o sentido da vida,
escorrem feito água pelas mãos.
Quais raras as vezes que sai uma janta por várias mãos
agora? Daquelas que a gente perde hora e conversa enquanto prepara, tomando um
vinho ou uma cerveja quem sabe...
Cadê nossas noites de violão, nossos sonhos
propagados em conjunto?
O que fica é que a gente se perde, perde os sonhos,
as conquistas, as formas de se conquistar, a gente esquece o clima gostoso, por
parecer que o conhecer passou, que não existe descobrir e que ta ali tudo o que
já podíamos ter visto, “há eu já conheço” a gente sempre indaga assim.
Os detalhes são raridades, são o que alimenta e dá
sentido mesmo quando a gente faz questão de esquecê-los, assim se faz prece diária
de todos os dias quando eu acordo, que eu não perca o que se perde ao piscar os
olhos, que eu entenda o que as palavras tem pra dizer entre suas linhas, que eu
valorize a simplicidade dos gestos de carinho e cumplicidade.
Que eu seja memória, entrelinhas cruzadas, conhecedora
das novidades mesmo quando já é cotidiano, que eu saiba entender silêncios,
escolhas, processos, que eu me faça presente sendo conquista diária das
pessoas, que eu seja descoberta, que saibam ler minhas entrelinhas, que
saibamos ser um do outro como sempre ser fez sentido, sem perder essência.
Que o piscar
dos olhos seja a rotina!
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